A coluna desta semana traz uma entrevista com a historiadora, Denise Lima, formada em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora, especializanda em História e Cultura Afro-brasileira pela PUC-Minas.
PM: Quando você começou se aproximar da História?
Denise: Há muito tempo atrás. Desde o ensino fundamental o estudo da história era algo que me fascinava, eu gostava de estudar sobre os povos antigos, por exemplo, saber como eles viviam. Além disso, o estudo da História levava a investigação e ao questionamento da minha realidade.
PM: Qual é o campo de Trabalho para o Historiador?
Denise: Além de atuarem como professores do ensino fundamental, médio e superior, historiadores atuam na área de pesquisa e consultoria, tais como tombamento de áreas e edificações, organização de acervos culturais e históricos e outros.
PM: Você considera que nós somos produto da História? Por quê?
Denise: Em certa medida sim. Somos influenciadas pelo meio em que vivemos, mas também o influenciamos. Somos o produto da educação de nossos pais, das nossas vivências e do momento histórico em que estamos inseridas, mas não podemos esquecer que a História é feita por nós. Não estamos determinadas a ser algo, pronto e acabado, temos o direito de escolha e isso é maravilhoso.
PM: Você faz uma especialização em História e Cultura Afro-Brasileira. Porque fez essa escolha?
Denise: Bem, eu sempre me interessei pelo tema, mas há 9 anos atrás quando comecei a namorar com o meu esposo (que é negro e lindo!), tive medo do preconceito e do racismo que os meus filhos poderiam sofrer e vi que não era justo as pessoas serem julgadas pelo tom da sua pele, então quando tive a oportunidade de fazer uma especialização nessa área não pensei duas vezes,quis estudar mais, para contribuir de maneira mais efetiva na construção de uma sociedade em que as diferenças são respeitadas, os negros tenham orgulho da cor de sua pele e as mesmas possibilidades de ascensão social que os brancos.
PM: Como você vê o Preconceito?
Denise: Como algo muito triste, inerente a sociedade brasileira.
PM: Para você, existe racismo no Brasil?
Denise: Com certeza. Só que é um racismo velado. Ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos (segregação racial) e na África do Sul (regime do apartheid) em que o racismo era institucional, isto é, instituído pelo próprio estado e isso obrigou os negros a lutarem por seus direitos civis, no Brasil ninguém admite ser racista, mas as pesquisas demonstram isso claramente: as universidades são um espaço de maioria branca, os negros ganham bem menos que os brancos ocupando os mesmos cargos e passam menos tempo na escola em comparação com o aluno branco (IBGE – 2.002). Sem falar que muitos pais, até hoje não admitem que a filha (o) namore ou se case com uma pessoa de cor negra.
PM: Que livro você indicaria para nossos leitores?
Denise: Na senzala, uma flor (Robert Slenes). Esse livro mostra que apesar das agruras da escravidão, os escravos foram sim capazes de formar famílias, contrariando a historiografia tradicional que afirmava serem todos eles promíscuos.
PM: Deixe uma mensagem para todos os leitores do Blog Papo de Mulher apaixonados pela cultura e pela história.
Denise: Bem, o mercado de trabalho hoje está muito exigente em qualquer área, então procurem ler bastante, se informar sobre o que está acontecendo a sua volta, estudem e não desistam de seus objetivos. E lembrem-se: nós fazemos a História. Bjs...
Denise Lima.